Que o ódio das novelas não seja maior que a importância do beijo

Todas as rodas de conversa brasileiras deste fim de semana – e que seja da semana, e que seja do ano! – falam sobre o beijo que, ao contrário do que muitos especialistas afirmam, não é de Mateus Solano e de Thiago Fragoso, mas de Félix e Niko. As demonstrações lindas de homossexuais que fizeram com que a família sentasse no sofá da sala para ver que não vive com um extraterrestre se misturavam aos revoltados de plantão que repetem sem parar o nome da emissora em declarações de ódio sempre aliadas às palavras “monopólio” e “ignorância”.

Sim, já houve beijo gay na televisão brasileira. Sim, foi entre duas mulheres, no SBT. Mas, está exatamente no fato de que tão pouca gente lembra a chave para a importância do que aconteceu na última semana. O beijo entre dois homens aconteceu na novela de maior audiência da TV brasileira (mundial, alguns dizem) na emissora mais assistida do país.

Não sou defensora árdua da Globo (até porque, os domingos continuam sendo uma lástima…) mas acredito que há de se valorizar os colhões que a emissora teve ao colocar no seu horário mais nobre, no seu capítulo mais nobre uma cena tão bonita, de uma verdade tão bonita.

Na Xanéu nº 5, d’O Teatro Mágico, Fernando Anitelli canta, com Zeca Baleiro, que a TV “não quer mais passar novela, sonha um dia em ser janela e não quer mais ficar no ar”. Na última semana eu discordei. A novela cumpriu seu papel, a TV se transformou em janela sem precisar sair do ar. Apareceu ali o mundo real.

Que siga assim na novela do gênio Manoel Carlos, quando acontecerá uma história de amor entre duas mulheres. Que seja assim em todas as novelas, mas, principalmente, em todas as rodas de conversa. Porque esse mérito, meus queridos, vocês não vão conseguir tirar das novelas.

Não coloquei foto do beijo aqui. Porque o que acho mais importante de tudo isso está longe de ser um beijo.
Não coloquei foto do beijo aqui. Porque o que acho mais importante de tudo isso está longe de ser um beijo.

O que você acha?