Férias

Eu poderia escrever sobre os últimos bons filmes que eu vi (assistam Juno, Reine Sobre Mim e Caçador de Pipas). Poderia, talvez, escrever sobre o Segundo Ato de O Teatro Mágico e citar algumas das muitas belíssimas frases ou sobre o Zeca Baleiro, que não me abandona nunca. Ou quem sabe, falaria do John Fante e da minha paixão pelo seu Pergunte ao Pó. Mas, mesmo que o meu amor pela arte esteja em lua de mel com a minha preguiça cultural, não quero falar deles, não.

Poderia escrever parágrafos infinitos sobre o grito preso na minha garganta, sobre os versos que eu penso todas as noites enquanto o sono não vem e sobre os caminhos sinuosos da minha cabeça, que me parecem mais obscuros a cada dia que passa. Gostaria muito de conseguir expressar em palavras simples sensações tão complicadas, em uma prosa sem rimas e sem poesia toda a falta de brilho do meu olhar.

Eu gostaria muito de falar dos meus últimos meses morando com meus pais, da fase fantástica que eu passo com eles e de como é bom acordar e ir direto fazer cócegas no meu pai. Quem sabe até, eu falasse um pouco da emoção que eu sinto ao estar perto deles e sobre como eu os amo.

Eu poderia escrever sobre as pequenas conquistas do meu dia-a-dia, sobre os sorrisos que tenho conseguido dividir e sobre o peso nas minhas costas que já não é mais tão pesado. Talvez eu pudesse expressar como é instável a minha solidão, sobre como os dias e as noites tem sido compridos e sobre como eu tenho fugido de multidões.

Poderia tentar mostrar como é angustiante chorar sem motivo, fechar a mão ao atravessar a rua e não saber quem você queria na outra mão. Talvez eu conseguisse dizer como é estranho gostar de alguém no passado e desprezar no presente, ou ainda, como é estranha a incógnita do futuro.

Talvez eu pudesse falar de coisas fúteis e superficiais ou, quem sabe, pudesse dizer como é fácil manter-se longe dos problemas. Poderia afirmar que a solução corre na direção oposta quando você busca por ela e que nunca, em momento algum, eu imaginei deixar histórias mal resolvidas pra trás.

Como eu não consigo passar da segunda frase sobre nada disso, só posso ir embora. Vou estar aqui, mas me manterei longe. Eu estarei apenas buscando na solidão as respostas e as explicações que a obviedade não me traz. Eu estarei com todas as palavras não escritas, todos os sentimentos não declarados e todas as verdades caladas. Eu estarei longe de tudo e perto de mim. Assim, quem sabe, eu consiga entender a insanidade da razão.

7 comentários Adicione o seu

  1. Thiago disse:

    é mto estranho mesmo sentir que alguém possa ser maravilhoso no passado, mas não serve pro presente… acho que quase todo mundo acaba passando por isso mais cedo ou mais tarde… aliás, essa história toda de passado/presente/futuro é algo que, às vezes, dá uma sensação de impotência quando pensamos que o passado não pode mais ser mudado e o presente é fruto desse passado… o futuro acaba sendo fruto de escolhas que já fizemos com uma pitada de escolhas que ainda vamos fazer, ou não? já não sei mais…

  2. Tathiana disse:

    Espero, no entanto, que esteja por perto daqui, da gente, ainda que com os fragmentos dos seus dias, dos acontecimentos e dos sentimentos ainda que pareçam desconexos.
    Bjs.

  3. eu ia comentar uma série sem fim de xingamentos. mas vou tentar ser um pouquinho mais bem educado dessa vez. mais solidão é a última coisa que você precisa.
    faz o seguinte: te dou 4 dias.
    4 dias longe de tudo. depois, tu vai perceber que não dá pra entender a insanidade da razão, justamente pelo fato de ela ser insana.

    4 dias.
    depois… deixa estar.

  4. Felipe disse:

    Ai, aii..
    Eu entendo o que vc está falando. Mas a única coisa que eu posso te falar é: Relaxa!
    Beijos, Marina!

  5. Jessica disse:

    Se a razão é insana, como e pra quê tentar entendê-la? Mesmo assim, com todo seu trabalho, é muito estranho correr atrás de algo que foge de você. Será tudo uma eterna competição?
    Triste…

    ;*

  6. Dea disse:

    “Eu estarei longe de tudo e perto de mim”. é, talvez eu precise disso também.

    até mais ler.

  7. Ana disse:

    Gostei do novo topo do blog. Nao gosto dessa depressao interna! Almoço semana que vem. Eh uma ordem ok?

    Beijo

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